Quando o primeiro livro da saga é muito bom, o segundo pode decepcionar. Será que foi isso que aconteceu com O Retrato?
Sinopse
"Em O Retrato, segunda parte da trilogia O tempo e o vento, Rodrigo Cambará, neto do heroico capitão Rodrigo, torna-se um líder populista, defensor dos pobres e do Estado Novo. Em 1945, com a queda de Vargas, Rodrigo volta à cidade natal para um ajuste de contas com a família."
Minha leitura
Devo confessar que a continuação de O Tempo e O Vento não me pegou tanto quanto O Continente. A vida de Rodrigo Cambará não era nem um pouco tão interessante quanto a do seu bisavô, ou de seus outros ancestrais.
Agora sei como se sentiam os homens de Santa Fé quando tinham que ir pra guerra, pois essa leitura foi uma verdadeira batalha. Tive que me forçar a pegar o livro e ler, fui aos poucos, arrastando mesmo, até a parte que Rodrigo escreve o jornal, aí eu engrenei um pouquinho... Mas não muito...
Falando em Rodrigo, se na leitura de O Continente eu consegui não julgar personagem nenhum e só me deliciar com a boa construção de cada um, com o filho de Licurgo foi bem diferente. Que personagem odioso! Um filhinho de papai, mimado, de péssimo caráter mas que quer se passar por bonzinho. Se fosse hoje em dia ele seria um "esquerdomacho" ou coisa pior.
O que achei bem interessante é que Erico Verissimo deixa bem claro que os genes dos antepassados que conhecemos no outro livro estão expressos nos seus descendentes. Em "Rodriguinho" (😜) por exemplo, eu consigo ver muito de seu bisavô Capitão Rodrigo, principalmente quando se trata de mulher, e também o gosto por uma briga, por uma confusão. A coragem, que nesse caso considero mais uma falta de medo, vem da avó Luzia, assim como o gosto pelas coisas luxuosas e o preconceito, que ele tenta esconder mas que escorre por seus poros. Contudo, não podemos esquecer que os Terra eram muito corajosos, e ele carrega nas veias o sangue de Ana, Bibbiana e Maria Valéria!
Seu irmão, Toríbio, também parece ter herdado algo da sinistra avó, seu gosto por roubar as coisas do cemitério e a falta de dor, de medo ou sentimentos não deixa dúvidas em relação a isso. Porém, herdou dos Terra o amor pelo trabalho rural, prefere o Angico do que a cidade, ao contrário do irmão.
Acredito que Rodrigo Cambará é um personagem que acompanhamos por inteiro, desde a infância até a velhice, O Retrato é praticamente só sobre ele, se cada personagem mais importante da saga mereceu o seu capítulo ou seu livro, Rodriguinho recebeu um volume inteiro para si. (ou dois, dependendo de que edição se lê)
O Rodrigo é um político, portanto o livro está recheado de discussões sobre os acontecimentos históricos da época. Isso que fez com que a obra fosse muito difícil de ler pra mim, no sentido de ser chata mesmo. Eles ficam conversando sobre política por boa parte da trama, e isso não me entusiasmou. Muitas coisas consigo enxergar na nossa atual situação e acho que esse pode ser o motivo de ter ficado cansada com a leitura. Estamos vivendo um momento bem complicado em nosso país, muito parecido com tudo que os Cambará estavam experimentando em Santa Fé, Brasil e no mundo de 1910 em diante.
Por estar de saco cheio da minha realidade é que vou me refugiar nos livros, e aí encontro em meu refúgio quase a mesma situação da qual quero fugir! Isso fez com que a leitura de O Retrato fosse muito arrastada, eu não queria pegar no livro, comecei a ler outras coisas e fui adiando ao máximo voltar para a obra de Erico Verissimo. Triste realidade!
Sei que se lesse esse livro em qualquer outro momento da minha vida, iria achar as discussões muito relevantes, porque realmente são, mas na realidade em que me encontro tudo que eu queria era a Santa Fé de Rodrigo e Bibiana, mas essa já passou e estamos em outra parte da história.
Somente no final do livro, quando o personagem principal também meio que se cansa da política e se interessa por Toni, que o enredo fica mais instigante e não tem como você não partir dali pro final da obra. É também quando ficamos conhecendo um pouco mais dos filhos de Rodrigo, que acredito eu, serão os personagens de O Arquipélago, e se for acredito que vou gostar pois já ficou bem nítida a herança genética de cada um, e tem sido isso que mais me chama a atenção em O Tempo e o Vento, ver como os genes se manifestam na família com o passar do tempo.
O Arquipélago já chegou aqui em casa, no mesmo dia que terminei a leitura de O Retrato! E o bicho é um tijolão! Espero que seja mais legal que esse último, pois não quero me arrastar na leitura novamente, acho até que isso é algum tipo de pecado literário. Imagina! Se arrastar numa leitura de Erico Veríssimo! Os Deuses não perdoam esse tipo de sacrilégio!