O Tempo e o Vento - O Continente Vols. I e II - Erico Verissimo

 A cada dia que passa eu sou mais surpreendida pelos clássicos e pela minha capacidade de gostar deles.

Não é por acaso que livros clássicos são clássicos, no mínimo muita gente leu e gostou dessas histórias pra elas ficarem pra sempre no inconsciente coletivo da humanidade. Se tantos leitores gostaram só pode ser porque o livro é bom, se ele continua sendo lido depois de anos de publicação também só pode ser porque sua leitura é agradável. Sendo assim, por que eu sempre achei que os clássicos eram difíceis de ler e impossíveis de gostar? 

Ultimamente, percebo que minhas leituras preferidas têm sido de grandes obras da literatura mundial. Tudo começou com Os Miseráveis, depois veio Grande Sertão: Veredas, em seguida Anna Karenina e por fim Jane Eyre. No momento estou me aventurando pela saga O Tempo e o Vento de Erico Verissimo. 

Quando que eu pensei em ler esse livro? Nunca! Nada nele me chamava a atenção, e o fato de ter um trilhão de volumes também não ajudava muito. Esse negócio de história de família tem a fama de ter muitos nomes e confundir a cabeça dos leitores. Além do fato de eu nunca ter tido nenhum interesse pelos estados do sul do Brasil. Enfim, eu acreditava que não iria gostar de uma leitura dessas, que seria arrastada e chata. 

A verdade é que sempre foi isso que pensei dos clássicos: chatos e arrastados. Escritos de uma forma antiga que não dava pra entender, sem nada a ver com os tempos atuais ou a minha realidade e muito menos com os temas pelos quais me interesso. Santa inocência, Robin!!!

Ler um clássico é praticamente a garantia de uma leitura agradável e fluida. Sim! Porque se ele sobreviveu até os dias atuais é porque é um livro muito gostoso de ler. Isso é óbvio. E o "gostoso" significa que você vai gostar da leitura mesmo que ela te incomode, e com certeza vai incomodar, porque não seria um clássico se não mexesse de alguma forma com o leitor. Mas é um incomodo que faz você não querer parar de ler e não de desistir do livro. 

 

O Continente Vols. I e II

O livro já tem um começo maravilhoso:

"Era uma noite fria de lua cheia. As estrelas cintilavam sobre a cidade de Santa Fé, que de tão quieta e deserta parecia um cemitério abandonado. Era tanto o silêncio e tão leve o ar, que se alguém aguçasse o ouvido talvez pudesse até escutar o sereno na solidão."

Não é lindo? Com certeza está no Hall das grandes frases iniciais de livros de todos os tempos! Só de começar a leitura assim você já sabe que vem coisa boa pela frente. E o autor não decepciona, não.

A leitura é muito fluida, é uma obra gostosa de ler. Você vira as páginas e não consegue parar, por mais que diga a si mesmo que no próximo capítulo você vai pegar uma água, sua boca fica seca mas você não para de ler. 

Os personagens despertam uma série de sentimentos no leitor, mas acho que pra mim o que mais pegou foi a compreensão. Eu não consegui julgar ninguém, por mais terríveis que fossem as atitudes deles, por mais que eu discordasse de uma coisa ou outra, eu entendi que essa era a história, que aquele era o contexto e que ali não cabia julgamentos. Todos os personagens são extremamente ricos justamente por terem essas características. É isso que torna a leitura ainda mais maravilhosa.

Contudo, nesse primeiro livro, minha personagem preferida foi Ana Terra. Não tinha como não ser, uma mulher forte, que enfrenta tudo que enfrentou com tamanha sabedoria! Eu só conseguia pensar: Eita, mulher porreta!!! Que Capitão Rodrigo, que nada! O destaque do O Continente é Ana Terra! Sua história é inesquecível!

Uma coisa que eu achei muito legal de fazer foi voltar ao primeiro capítulo, O Sobrado I, depois de ter terminado o livro. A experiência de leitura dessa passagem é completamente diferente depois que você conhece todos os personagens e suas histórias. Parece que sua mente se abre, sabe aquele meme da cabeça explodindo? É isso, e você se dá conta do quanto Erico Verissimo era um gênio!

Sim, outra coisa que me deixou boquiaberta: Como é possível ainda ter mais dois livros pela frente? (Na edição que estou lendo compilaram a saga em três livros) Em O Continente acontece tanta coisa! Passam-se tantos anos, são tantas gerações dos Terra Cambará, que eu não consigo imaginar como ainda sobrou história pra contar! 

Sabe o que também é bem legal dessa obra? O contexto histórico! Você se vê obrigado a pesquisar sobre a história do Brasil e do Rio Grande do Sul pra entender o que se passa e quem são aqueles nomes que, apesar de já ter aprendido na escola, você não se lembra mais tão bem. Isso é ótimo pra ativar os circuitos neuronais já adormecidos e adquirir conhecimento. O Tempo e o Vento é uma aula!

Portanto, se algum dia eu tive medo ou desinteresse por essa obra linda, peço desculpas ao gênio Erico Verissimo. Prometo que de hoje em diante vou me jogar nos clássicos como me jogo nos potes de Nutella depois de uma frustração, e vou continuar lendo a saga incansavelmente e com muito prazer. Obrigada por tudo e até o post de O Retrato


11 Comentarios

  1. resenha bem completa e rica em detalhes
    adorei
    não conhecia esse ainda

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  2. Confesso que nunca li, já ouvi falar, mas nunca peguei para ler, acho que é por ranço da época de escola em que éramos obrigados a ler esse tipo de livro, e confesso que na época eu não gostava nem um pouco .... Lendo o que escreveu me bateu curiosidade de ler essa obra ...

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  3. Oi
    Este livro é maravilhoso, adoro o trabalho do autor é otimo

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  4. Livro incrível amo o autor,tem um trabalho impecável.

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  5. Olá, tudo bem? É sempre bom quando achamos um título que gostamos! Que maravilhoso que está se surpreendendo com os clássicos. Ainda não li, mas quero conhecer!
    Beijos

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  6. Adoro livros assim, clássicos que além de tudo ensinam muito e nos forçam a estudar mais para entender perfeitamente a obra.

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  7. Olá, tudo bem?

    Adoro os clássicos, mas confesso que tenho lido muitos poucos nos últimos tempos. Fiquei feliz ao saber que foi uma leitura tão boa pra você e que os personagens despertam muitas emoções, algo que acho sensacional. Adorei saber que tem essa questão do contexto histórico também, algo que curto demais. Fiquei querendo conhecer agora, pois acho que vou curtir.

    Beijos!

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  8. Nunca ouvi falar, mas adorei a sua resenha

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  9. Ainda não li o livro, mais é um clássico esse livro, pela resenha é um livro que vai agradar muito o leitor, resenha maravilhosa, bjs.

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  10. Quanta sensibilidade!!! Adorei quando você diz: que capitão Rodrigo que nada, a estrela é Ana Terra. Exatamente esse meu sentimento. rsrs.
    Ter empatia pelos personagens, entender a subjetividade de cada um é maravilhoso. Texto incrível. Vim pelo grupo do telegram conferir suas impressões sobre essa saga incrível e amei. Parabéns.

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    1. Obrigada!!! Já estou com saudades do nosso grupo e desses personagens que mexeram tanto com a gente! Bjks

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