Bem-vindos à livraria Hyunam-dong - Hwang bo-reum

 


Uma mulher resolve abrir uma livraria depois de um acontecimento dramático. Ao fazer isso, pessoas vão entrando em seu cotidiano e transformando o estabelecimento em um ponto de encontro, onde todos conversam e tentam levar a vida de forma mais leve, lidando com seus questionamentos e apoiando uns aos outros.

Justamente por ter diversas pessoas na história, o livro consegue falar de vários assuntos, pois cada personagem tem um incômodo e uma reflexão própria sobre várias questões da realidade. Contudo, temas como o trabalho, a amizade e o bem-estar são mais abordados, estando no centro da narrativa.

Yeongju, a dona da livraria, é a personagem principal. Mas o barista, Minjun, e frequentadores assíduos da livraria, como Jimi e Jeongseo, também têm parte importante no enredo. Todos eles passam por um certo desenvolvimento, ainda que não muito aprofundado.

A motivação desses personagens é encontrar um equilíbrio entre o que a sociedade impõe como felicidade ou sucesso e o verdadeiro bem-estar, o que realmente os faz felizes. Para tanto, passam por momentos de meditação e transformação que também ajudam o leitor a pensar em como tem levado a sua vida.

A ambientação na livraria Hyunam-dong é bem construída; você realmente sente vontade de estar naquele lugar. Até mesmo na casa da personagem principal, o cenário aconchegante dá vontade de passar algum tempo ali com aqueles personagens. Isso contribui muito para a atmosfera da história, que fala sobre encontros e comunhão entre pessoas tentando se ajudar.

"Acho que é uma boa ideia tentar se levantar do fundo do poço. Nunca se sabe o que pode acontecer, então por que não tentar pelo menos uma vez? Você não tem curiosidade de descobrir o que pode acontecer se você se levantar?"

A descrição é bem detalhada; a autora não tem nenhuma pressa e escreve sobre cada pormenor de coisas teoricamente desimportantes. Temos um capítulo inteiro descrevendo um domingo comum e monótono na vida da personagem principal. Senti como se estivesse assistindo a esses vlogs no YouTube ou até no TikTok, que são basicamente sobre o cotidiano da pessoa e não querem dizer absolutamente nada. Ao contrário do livro, onde esse tipo de escrita tem o objetivo de mostrar como a felicidade está em pequenos momentos simplórios da realidade aos quais não damos tanto valor como deveríamos.

O ritmo da narrativa é bem lento; nada importante acontece em boa parte da história. Mas, como os capítulos são curtos, a narrativa acaba ficando leve e flui enquanto você está realizando a leitura. Ainda assim, para mim, o maior problema foi mesmo ter vontade de pegar o livro. Não é uma história que você fica querendo saber o que vai acontecer, até porque não acontece muita coisa.

Sinceramente, não consegui me conectar muito com os personagens. Talvez tenha faltado profundidade, ou mesmo foco, já que são muitas pessoas convivendo tudo ao mesmo tempo agora. Acredito que tenha me identificado mais com as questões que cada um trazia do que com as personas ali apresentadas.

Para mim, a história só ficou realmente boa bem perto do final, quando algumas respostas começam a vir à tona depois de tanta reflexão e questionamentos. Provavelmente, ou certamente, isso aconteceu comigo porque sou muito ansiosa, e esse tipo de história para uma pessoa assim é quase torturante, mas também terapêutica. Já que é isso que o livro tenta ensinar: não seja apressado, tenha calma, viva o momento, não fique querendo respostas e soluções o tempo todo. Uma coisa de cada vez.

Aliás, a expressão Carpe diem tinha que aparecer nessa história e apareceu, assim como a necessidade de contemplação e atenção plena. Não com essas palavras, mas esse estilo de vida certamente estava presente em toda a narrativa.

O livro traz muitas referências de outras obras culturais, da literatura e cinema principalmente. A maioria eu não conhecia, mas fiquei muito feliz em ver A sociedade dos poetas mortos, um filme muito querido, sendo citado por um dos personagens.

Mas, sejamos justos, para um livro tão monótono, até que perto do final algumas coisas acontecem; rola até um certo suspense quando aparece um personagem misterioso. Também temos romance, mas bem de leve, até um pouco irritante para alguém mais intenso como eu.

Por isso, o livro não me prendeu muito. Acho que é muito difícil para uma pessoa ansiosa gostar desse tipo de literatura, mas não impossível. Pois é exatamente isso que a ficção de cura propõe: que você consiga lidar com esses sentimentos que te fazem mal.

Mas, como foi o meu primeiro livro do tipo, acho que uma dose apenas do remédio não teve muito efeito. Precisaria me esforçar mais para conseguir ler outras obras do mesmo estilo para "me curar", talvez.


No entanto, gostei muito da forma como a autora questiona o sistema capitalista e a idolatria ao trabalho, a busca do sucesso acima do bem-estar do trabalhador.

A relevância que a trama traz à amizade e ao encontro das pessoas também foi algo que me agradou bastante na história. Em certo momento, um dos personagens nos diz que não importa se você é bom ou ama o seu trabalho; se o ambiente for ruim, você será infeliz do mesmo jeito. Por isso, a presença de pessoas significativas em nossas vidas faz toda a diferença para o nosso bem-estar. É algo que tenho percebido cada vez mais, e o livro reforça essa ideia, confirmando reflexões que já habitavam meus pensamentos.

"Uma vida de sucesso é uma vida rodeada de pessoas boas. Posso não ter sido bem sucedido de acordo com a sociedade, mas, graças a essas pessoas, todo dia é um dia de sucesso."

Por mais simples que essa obra seja, acredito que não se trata de uma leitura fácil. É uma experiência que mexe com nossas emoções de uma forma ou de outra. Ele pode nem ser um livro tão bem escrito, bem construído, com uma qualidade literária admirável, mas suscita sentimentos no leitor. No meu caso, foi a inquietação. A falta de paciência com uma escrita tão lenta e sem grandes acontecimentos.

Fico me perguntando se é uma leitura recomendada para pessoas calmas ou agitadas. Pessoas mais tranquilas vão provavelmente gostar mais da leitura, porém os ansiosos como eu podem não amar, mas crescer a partir dela.



A ficção de cura me curou?

Acredito que, nesse primeiro momento, ela mais trouxe à tona as minhas dificuldades. Mas também trouxe algumas reflexões que, apesar de um pouco óbvias, são reconfortantes enquanto você lê. Acho que eu queria ter gostado mais. Gostaria de ter encontrado uma solução para os meus dias de agitação, mas não foi bem assim. Acredito que, para a ficção de cura curar, é necessário mais de uma leitura, ou mais de uma dose do xarope. Só que o remédio pode ser amargo, e aí fica difícil persistir no tratamento.

Além disso, alguns medicamentos podem ser apenas placebo; acredito que vai depender mais do leitor do que do livro, nesse caso.




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