Ainda estou aqui - Marcelo Rubens Paiva

Como a família do autor enfrentou o momento em que Rubens Paiva foi preso e morto pela ditadura militar brasileira. 

Sinopse para pessoas normais

Eunice Paiva é uma mulher de muitas vidas. Casada com o deputado Rubens Paiva, esteve ao seu lado quando foi cassado e exilado, em 1964. Mãe de cinco filhos, passou a criá-los sozinha quando, em 1971, o marido foi preso por agentes da ditadura, a seguir torturado e morto. Em meio à dor, ela se reinventou. Voltou a estudar, tornou-se advogada, defensora dos direitos indígenas. Nunca chorou na frente das câmeras.
Ao falar de Eunice, e de sua última luta, desta vez contra o Alzheimer, Marcelo Rubens Paiva fala também da memória, da infância e do filho. E mergulha num momento obscuro da história recente brasileira para contar ― e tentar entender ― o que de fato ocorreu com Rubens Paiva, seu pai, naquele janeiro de 1971.


Minha humilde opinião

O Marcelo é um excelente escritor. Antes de ler este livro, eu já tinha lido dois de seus trabalhos, Feliz Ano Velho (claro!) e Blecaute, ambos me cativaram de maneira espetacular. Sabia, portanto, que com Ainda Estou Aqui não seria diferente.

A leitura flui de uma forma tão envolvente que o tempo parece simplesmente desaparecer, e, quando você percebe, já está no meio do livro. O autor começa falando sobre a doença de sua mãe e, em seguida, retorna no tempo para narrar a história de sua família. Ele descreve sua infância abastada, como um menino rico e feliz, e como, aos poucos, tudo começou a desmoronar, com os dramas destroçando aquela família.

Achei interessante como grande parte da população, na época, acreditava no que lia nos jornais censurados, chegando até a chamar seu pai de terrorista. Fico imaginando essa realidade como se as fake news bolsonaristas fossem tomadas como as principais notícias da imprensa nacional.

O que mais me impressiona em relação à mãe do autor, Eunice Paiva, é a forma como ela não se deixou abater diante do horror que a ditadura impôs à sua família. Aos 41 anos, ela fez uma nova faculdade e iniciou uma carreira extremamente bem-sucedida e reconhecida na defesa da causa indígena.

A partir da segunda parte do livro, começamos a conhecer mais profundamente a história do pai de Marcelo e os eventos que levaram à sua prisão. Tudo é narrado de maneira gradual, revelando os acontecimentos aos poucos, da mesma forma que a família foi descobrindo, com o passar dos anos, o que realmente aconteceu com ele. Esse ritmo mantém o leitor tanto curioso quanto indignado.

O livro é, sem dúvida, excelente. Não é à toa que foi adaptado para o cinema e muito provavelmente será agraciado com diversos prêmios. A história é dilacerante, mas também profundamente bela e poderosa, principalmente por causa da figura de sua mãe.

Terminei a leitura devastada pela crueldade retratada. No entanto, o que escolho levar comigo dessa experiência é, sem dúvida, a força de Eunice Paiva e a lição que ela nos deixa. Quem tiver a oportunidade de ler esta obra vai entender exatamente do que estou falando. É simplesmente incrível!



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