O Ar que me falta - Luiz Schwarcz

É de faltar ar mesmo, pois a leitura é tão fluida que você nem respira! Li esse livro em dois dias e nem senti, quando vi tinha acabado. 

Eu amo biografias, sempre amei, e fazia muito tempo que não lia algo do tipo. Nesse caso trata-se de um livro de memórias, mesmo assim é muito interessante acompanhar a história de vida de alguém, eu gosto muito.  

O que me levou a ler O Ar que me falta foi o meu próprio estado emocional. Estava numa bad tão grande que precisava da companhia de alguém que sentia o mesmo. Deve ser por isso que devorei o livro tão rapidamente, eu senti que o autor estava conversando comigo e contando sobre o seu transtorno mental.

O Ar que me falta é um livro de memórias de Luiz Schwarcz, o criador da editora Companhia das Letras. Nessa obra o autor tenta explicar sua condição emocional atual por meio da história de sua família, principalmente do seu pai e avô. Luiz tem transtorno de humor bipolar, e seu pai sofreu anos com uma depressão muito forte. 

O livro é de uma sinceridade tremenda, o escritor se abre para o leitor de uma forma que parece que estamos acompanhando suas sessões de análise. Muito do que está na obra foi claramente produto de uma terapia longa e profunda. As questões apresentadas ali não são fáceis para o leitor digerir imagina então para quem as viveu. 

Luiz Schwarcz fala sobre seus sintomas e seus tratamentos, os sentimentos em relação à história e à cultura de seus antepassados, bem como com a esposa que conheceu ainda jovem, a famosa escritora e historiadora Lilia Schwarcz, peça fundamental em seu sucesso e em sua recuperação.

O que eu achei interessante desse livro é que ele mostra que pessoas com doenças mentais podem ser bem sucedidas e ter uma vida normal. Obviamente Luiz teve muitos privilégios na vida, mas parece que não é incomum pessoas com transtorno bipolar se darem bem em suas carreiras, devido à fase mais eufórica eles acabam correndo riscos que outras pessoas não se atreveriam e com isso crescem profissionalmente. 

No meu caso, gostei de ler essa obra porque senti aquele velho sentimento de ter companhia na minha frágil saúde mental. Além do fato de a história da família do autor ao enfrentar todas as dificuldades daquele período histórico ser muito interessante também. 

O pai do autor conseguiu escapar do trem que levava os judeus para os campos nazistas, mas sofreu imensamente por deixado seu pai, avô do autor, que faleceu sem conseguir rever a família. 

O Ar que me falta parece ser um TCC da terapia de Luiz, como ele enxerga sua história depois de fazer análise, o que ele aprendeu depois de reviver a infância, a dinâmica familiar e tudo que tem a ver com seu transtorno. É por isso que a leitura não faz o leitor sofrer, pois passa a impressão de que está tudo resolvido e ele está contando como foi o processo de se compreender e de entender sua doença. 

Isso explica porque o livro não me deu "gatilho", não fiquei mal ao ler os relatos sobre os momentos de depressão e sofrimento, até porque sei que hoje o autor está muito bem obrigado, e também porque por experiência própria sei que é possível viver bem com um transtorno mental, apesar de não ser nada fácil. 

Mas bom mesmo é ter sua própria editora e poder escrever sobre suas neuroses em forma de livro, publicar, e além de fazer uma catarse ainda ganhar dinheiro com isso. 

Para ler ouvindo: Sangrando - Gonzaguinha