Talvez Você Deva Conversar Com Alguém - Lori Gottlieb

Pra quem tem curiosidade de como acontece o processo terapêutico, nesse livro você tem uma psicóloga abrindo sua vida e sua terapia para os leitores. 

Em Talvez Você Deva Conversar com Alguém a terapeuta e escritora Lori Gottlieb nos conta a história de como alguns anos depois de decidir ajudar os outros se tornando terapeuta, se vê na situação de ela mesma precisar de análise. Durante esse processo, a autora relata como é seu cotidiano como psicóloga, sua relação com os pacientes e com seu próprio analista, e a descoberta de que mesmo estando o tempo inteiro olhando para as emoções mais escondidas das pessoas, lidar com as suas próprias questões não é tão simples quanto pode parecer. 

Essa é uma obra muito gostosa de ler, apesar de mexer com sentimentos profundos e trazer a análise de vários personagens para a palma de nossas mãos, não é um livro carregado ou pesado, ele tem uma leveza que faz com que o leitor se sinta tão a vontade como se tivesse em seu próprio setting terapêutico. 

Devemos levar em conta que a autora antes de ser psicóloga foi roteirista de cinema, portanto ela sabe como criar uma narrativa envolvente. Lori divide os capítulos entre seu passado, a situação que a levou à terapia, e o contato com seus pacientes, o que não deixa em hora nenhuma o enredo enfadonho, como se poderia imaginar de relatos psicoterapêuticos. A história é rica, engraçada, dramática mas suave. 

Pausa na leitura

Eu sou uma leitora estranha. Quando uma obra literária é muito boa eu não quero que ela termine, isso faz com que eu pare de ler às vezes. Foi o que aconteceu com esse livro, eu fiquei aí uns três meses sem pegar nele. Não porque a história é ruim, mas porque gostei dela demais, e meio que queria guardar pra durar pra sempre. Eu sei, tenho probleminhas, talvez eu deva conversar com alguém sobre isso!

Depois que voltei a ler

Voltei a ler justamente no início da parte III do livro. Quando ela revela mais algumas coisinhas que estavam escondidas tanto do leitor quanto do terapeuta dela. O que ela conta sobre o Namorado nessa parte me deixou sem entender a razão dela continuar com um cara tão filho da puta. Desculpa, mas o cara não quer cuidar de ninguém, nem de criança e nem da esposa, pensa que a vida é como um cara desses? Que folgado! (revolts feelings)

É muito interessante como ela aprende com seus pacientes, cada história de vida mais surpreendente que a outra. São como pequenos contos à parte no livro, e você quer saber o que vai acontecer com cada um deles. 

Para não confundir um com outro eu fiz umas anotações. Rita é a senhora deprimida que procura por amor e que está apaixonada por outro senhor. John é um egocêntrico com problemas matrimoniais que tem muita dificuldade em se abrir na terapia. Julie, paciente com câncer terminal e Charlotte alcoolista com dificuldades em relacionamentos.

Acompanhamos as histórias desses pacientes que vai influenciando na vida e na terapia da própria autora. São casos muito emocionantes e que nos levam a refletir sobre a vida e nossas atitudes. Acima de tudo, Talvez você deva conversar com alguém nos ensina a olhar para dentro de nós mesmos, parece uma mistura de A coragem de ser imperfeito com Cartas a um jovem terapeuta passando por Mentiras no divã. 

É muito legal a autora mostrar que profissionais da saúde mental também são seres humanos e também têm problemas e dificuldades como todas as pessoas da face da terra redonda. Ela expõe suas vulnerabilidades para nos mostrar que está tudo bem fazer isso e que, na verdade, você precisa fazer isso pra se libertar. 

O livro emociona bastante, portanto se você é de chorar com leituras assim prepare os lencinhos, acho que não é a toa que a capa do livro é uma caixinha dessas. O principal instrumento de trabalhos dos psicólogos pelo mundo, pois o choro na análise é realmente livre! 

Obviamente, não iriamos ter uma obra escrita por uma terapeuta que não indicasse fortemente que você faça terapia. Lori mostra em seus relatos como conversar com alguém (de preferência um profissional treinado) faz muita diferença no auto conhecimento e na vida de qualquer pessoa, até mesmo naquela de quem é treinada para conversar com os outros! 

Eu recomendo que todos façam terapia e que todos leiam Talvez Você Deva Conversar Com Alguém. Não necessariamente nessa ordem.