O Morro dos Ventos Uivantes - Emily Brontë

Fiquei um pouco preocupada com a saúde mental da Emily Brontë, e também com a daqueles leitores que acham que esse livro fala de amor e são apaixonadas pelo protagonista...

Eu só li esse livro porque amei a obra da irmã da Emily, Charlotte Brontë. A leitura de Jane Eyre foi muito especial pra mim, ela me surpreendeu de várias formas positivas. Assim, resolvi dar uma chance para a parente escritora. 

Logo nas primeiras páginas já fiquei fascinada. Que começo sombrio! Minha curiosidade em saber quem eram aquelas pessoas era tão grande quanto a do personagem que havia acabado de chegar no Morro dos Ventos Uivantes. Fiquei profundamente grata por ele encontrar alguém que pudesse contar a história pra ele e pra nós, leitores.

Assim começa a narrativa dos acontecimentos tanto na casa dos Earnshaws, como na dos Linton. Duas famílias que se envolvem numa trama de ambição e obsessão, não vou dizer de amor ou romance porque realmente não vi nada de bonito nessa história, as pessoas ou eram vaidosas demais, ou ambiciosas demais, rancorosas e frias. Não consegui gostar de absolutamente ninguém nesse livro.

Algo que me chamou a atenção foi o fato de essas duas famílias parecerem estar sozinhas no mundo, como se não houvesse mais ninguém com quem pudessem se relacionar. Tirando a esposa do jovem Linton, o médico e o inquilino que chegou pra dar início à história, eles viviam sós enfurnados dentro de casa e só tinham contato uns com os outros. 

Acredito que isso se deve ao contexto histórico, quando as moradias eram bem isoladas, mas também à história da própria Emily, que viveu reclusa por muito tempo. Fico imaginando o que passava pela cabeça dela pra escrever uma história tão cheia de sofrimentos. 

Ao contrário do que acontece em Jane Eyre, os personagens que são mal tratados não se tornam pessoas melhores e "dão a volta por cima". Todos sempre se revoltam e acabam por piorar as próprias vidas. Quando não são malvados são tão mimados que não tem como ter empatia por eles. Principalmente a forma como as crianças são tratadas... isso com certeza foi o que mexeu mais comigo, não seria realmente possível alguém sair são de uma criação como aquelas. Heathcliff foi o mais cruel, na minha opinião (como alguém pode gostar desse personagem?). Mas o Earnshaw também não era boa coisa, desde o seu pai que praticamente o trocou por um menino estranho (aliás, faltou uma explicação pra isso). Mas também pra quê tanto ciúme? Não podiam ser amigos? Os Linton, coitados, entraram de gaiatos no navio, mostram como vizinhos ruins podem mesmo destruir nossa vidas, não menosprezem o valor de uma boa vizinhança!

Aquela maldita conversa que Heathcliff não escutou direito. Foi ali que tudo degringolou. Se bem que ele já devia ter planos de se vingar devido todo mal trato que sofreu do jovem Earnshaw. 

Normalmente histórias de vingança são legais, você fica torcendo pela vítima e sente tanto prazer quando o vilão da história é finalmente punido e o mocinho que tanto sofreu consegue dar uma bela lição no malvadão... Só que no caso de O Morro dos Ventos Uivantes todos são vítimas e todos são vilões. Não tem como torcer pelas maldades de Heathcliff ou pela felicidade das insuportáveis Catherines (desculpe, mas eu não consegui). 

Eu cheguei a pensar que no final era tudo culpa da Sra Dean, que estaria contando a história do seu ponto de vista e poderia estar enganada, colocando para o leitor o que na verdade eram apenas suas opiniões sobre essas pessoas. Mas com 70% do livro lido percebi que não tinha como refazer toda a narrativa pra que alguém mudasse completamente a percepção sobre os personagens. O ranço já havia crescido na alma dessa leitora, nada consertaria isso. Contudo, não contava com a astúcia da irmã de Charlotte, e ela conseguiu virar o jogo!

Eu sinceramente não sei como Emily Brontë conseguiu dar um final descente pra essa história, e devo dizer que aplaudi de pé quando cheguei às últimas páginas. Um belo final, que explica muita coisa e satisfaz o leitor, fez até com que eu ficasse feliz com o destino das crianças. Acho que pelo menos Hareton merecia ser feliz, foi o que mais sofreu, pobrezinho!

Cheguei à três conclusões no fim da leitura: primeiro que, pra mim, a heroína da história é Nelly Dean, a única pessoa aceitável do livro (Na minha fanfic ela poderia ter um lindo romance com Lockwood). Segundo, essa até pode ser uma história de amor, mas está mais para terror, um romance mal assombrado, talvez.

A terceira conclusão é que existe uma grande razão pra você não conseguir parar de ler O Morro dos Ventos Uivantes mesmo sendo uma história tão horrível, com pessoas tão sofridas e ruins: a fofoca! 

O livro em si é uma grande fofoca que a Sra Dean está contando para o recém chegado Lockwood, e tanto ele como nós, leitores, queremos saber o que se passou com aquela gente. A curiosidade do homem é tanta que ele volta depois de ano pra saber o que aconteceu! 

A fofoca é o que move a obra, assim como tem movido toda a humanidade até os dias de hoje. O livro de Emily é uma mistura de tititi com Notícias Populares. Que me perdoem os entendidos, tenho noção do pecado que estou cometendo escrevendo algo assim, mas é a única justificativa que encontro para o fato de eu ter gostado tanto desse livro


Trilha sonora (ou música que ficou na minha cabeça enquanto escrevia o post): 

Cilada - Molejão

Pra quem não lembra a letra era assim: " Não era amor era cilada, cilada, cilada..."

9 Comentarios

  1. Eu li esse livro há muitos anos. Beem antes de ter lido Jane Eyre... e por mais que eu tenha gostado demais deste segundo, eu preferi o Morro dos Ventos Uivantes. Acho que justamente por esse "vazio" dos personagens - são sombrios, ruins, vítimas... hahaha eu achei que em Jane Eyre a positividade no final do livro foi bacana, mas achei um pouco superestimada. Já em O Morro... não há pq se sentir otimista. E concordo 100%: a fofoca é ótima! E com o clima sombrio, eu super sentia que estava de férias numa casinha no interior, com a luz fraca e alguém contando uma historinha de terror, sabe? Eu gostava desse ambiente "de terror", desconfortável.

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    1. A fofoca é demais! Sim, eu acho que justamente por ser um livro fora do comum que faz a gente adorar ele. Mas eu ainda prefiro Jane Eyre, talvez seja mais romântica do que gótica.

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  2. oi
    È um clássico da literatura, um livro excelente. Bem escrito e com personagens interessantes..

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  3. que classico incrivel
    sua resenha rica em detalhes
    quero ler

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  4. Nunca tinha lido e não julgo você por ter gostado dele mesmo sendo que a "fofoca é o que move a obra", pois só de ler isso eu fiquei mega curiosa sobre kkkk

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  5. Olá, tudo bem? Eu tenho uma amiga que ama as histórias das irmãs Bronte, mas ela já me disse não esperar romances das histórias dela. Primeira vez que vejo uma resenha de perspectiva diferente de O Morro dos Ventos Uivantes, o que me deixou curiosa acerca. Afinal, quem não curte uma boa fofoca? HAHAHA Excelente resenha!
    Beijos

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  6. Sempre ouvi falar desse livro, mas nunca tive oportunidade de ler. Achei muito completa essa resenha
    Gostei, muito legal,
    Um abraço, Alécia do Blog ArroJada Mix

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  7. Olá, tudo bem?

    Esse é um dos meus livros favoritos da vida, mesmo o leitor odiando quase todos os personagens, pois a maioria é bem ruim. Porém, a forma como a autora conduz a narrativa e consegue abordar os temas me prende demais. E sim, concordo que a fofoca é o que move essa história haha Já li esse livro mais de sete vezes e cada vez é uma experiência única. Arrasou!

    Beijos!

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