Só os leitores vão me entender (Crônicas literárias ep.5)


Desculpe-me, mas preciso expressar a agonia que assola minha alma enquanto a biblioteca pública da minha cidade está em reforma. Oh, que sofrimento indescritível é esse de não poder emprestar livros! É como se uma parte de mim fosse arrancada brutalmente, deixando apenas um vazio existencial.

Nas noites escuras e tempestuosas, me pego chorando de desespero, imaginando como sobreviverei sem a possibilidade de pegar um exemplar emprestado. Ah, como sinto falta das longas filas para pegar minha senha, das senhorinhas que insistem em falar alto no silêncio sagrado do ambiente e dos funcionários sempre dispostos a me lembrar que meu livro está atrasado!

A reforma da biblioteca é um verdadeiro drama shakespeariano em que os livros são os personagens principais e eu sou a heroína trágica que não consegue se livrar do seu destino cruel. Pobre de mim, lançada à minha própria sorte, sem poder me deleitar com romances, suspenses, biografias ou até mesmo aqueles livros de autoajuda que me prometem uma vida melhor em dez passos fáceis.

Mas não me desesperei totalmente. Afinal, a tecnologia está aí para nos salvar, não é mesmo? Com um sorriso forçado no rosto, me digo que posso recorrer aos e-books e audiolivros, como se fosse a mesma coisa. Ah, que graciosa ilusão! Ler um livro no meu kindle não tem o mesmo charme de segurar um livro físico, sentir seu peso nas mãos, folhear suas páginas e, acidentalmente, marcar um trecho com um pedaço de chocolate.

Enquanto isso, vou continuar sofrendo em silêncio, alimentando meu vício por literatura com trailers de filmes adaptados de livros, fingindo que é a mesma coisa. Mas essa abstinência literária está me transformando numa versão um tanto quanto insana do Corcunda de Notre Dame, só que sem a beleza poética do romance.

Enquanto esperamos com a paciência de um personagem kafkiano, a reforma interminável da nossa querida biblioteca pública, questiono-me se este é apenas um exercício sádico de burocracia literária. Será que, ao entrar na biblioteca novamente, nos depararemos com um mundo surreal, onde as estantes se multiplicaram em um labirinto absurdo e o sistema de empréstimo se transformou em um processo tão complexo quanto decifrar os segredos do universo?

Mas no fundo sabemos que, como as obras de Kafka, a própria espera é parte integrante do enredo. Que venha o desfecho dessa trama kafkiana e possamos, finalmente, adentrar a biblioteca e desvendar os segredos que ela guarda.

2 Comentarios

  1. Oi,
    Gostei bastante desse trecho das Crônicas, quero saber o desfecho... Será que a biblioteca ficou melhor ou não? Foi um texto divertido de ler ^^
    Bjos
    Kelen Vasconcelos
    https://www.kelenvasconcelos.com.br/

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  2. Uma biblioteca faz muita falta pra quem gosta de ler livros, gostei muito do post.

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