Grande Sertão: Veredas - João Guimarães Rosa

 Esse post é um grande diário de leitura, feita por um ser humano normal, dessa obra magnífica de João Guimarães Rosa que é Grande Sertão: Veredas.

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Ao começar a ler esse livro a única coisa que pode ocorrer a qualquer ser humano normal é: "Que raio de língua é essa?" Porque nas primeiras linhas você não vai entender quase nada! Nonada!

Eu abri e fechei o livro umas três vezes, pensando em desistir, me perguntando o que eu estava fazendo, como é possível alguém conseguir ler isso...? Mas segui em frente, terminei uma folha e não entendi nada. Fiquei mostrando para as pessoas que estavam perto de mim e perguntando se elas entendiam algo, porque poderia ser só burrice minha. Porém, percebi que a dificuldade era geral.

Sendo assim, resolvi continuar a leitura fosse como fosse. Voltei pro começo e li mais umas três vezes, li em voz alta, li em voz baixa, li com sotaque, li cada frase pausadamente, e cada frase fluidamente. Lá pela quinta leitura da primeira folha foi que eu consegui entender alguma coisa, e percebi que a cada releitura captava mais o significado da linguagem.

A verdade é que você tem que ler como se fala, por isso ler em voz alta pode ajudar. Não vai adiantar ler com atenção, você tem que deixar rolar, e entrar na onda.

"Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas  -mas que elas vão sempre mudando."


🚨🚨👇Alerta: Spoiler👇🚨🚨

Semana 1: 

Essa é uma obra de interpretação, não basta ler, você tem que interpretar. Ao longo dessa leitura você vai incorporar Riobaldo, pois só assim para entender a mensagem que ele quer passar. Você mergulha verdadeiramente nas Veredas desse Sertão, porque esse é o tipo de livro que se você não entrar realmente na história, no contexto, se afundar de cabeça mesmo não vai conseguir captar toda a beleza da obra. A narrativa tem uma certa música, um ritmo, e é ele que você precisa pegar. Sinceramente, você não vai conseguir sair nem da primeira folha se não fizer isso!

Então, temos esse "doutor" que quer conhecer o Sertão, e pra isso vai conversar com o ex jagunço, Riobaldo. Conforme nosso narrador conta sobre os Gerais e suas veredas vai se lembrando das suas aventuras e relatando tudo ao seu interlocutor, que aparece sem aparecer.

Entre outras coisas, algo que Riobaldo sempre fala é sobre o pacto com o diabo, ou a existência dele, de onde vem o bem e o mal, essas filosofias de quem "agora deu pra pensar". Mas o que eu reparei, é que parece que o personagem tenta de alguma forma, através da fala do outro, se redimir. Ele é bem religioso e toda vez que o "doutor" concorda com ele, fica muito agradecido, diria que fica mesmo é aliviado.

"O senhor sabe: sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado!"

Eu fiquei chocada com a parte em que os pais "torturam" (porque pra mim aquilo é tortura) o menino por achar que ele tem o diabo dentro de si, ou por achar que assim vai tirar o mal de dentro dele.

Outra parte que me deixou boquiaberta foi o relato do macaco que mataram e comeram descobrindo em seguida que era uma pessoa. Acho que esses são relatos do sertão, aquele tipo de conto que os "antigos" contam. Como não estou acostumada com esse tipo de literatura, fiquei arrepiada!

Aos poucos vamos descobrindo que Riobaldo não é um jagunço qualquer, a vida dele é muito interessante. Ele é, na verdade, um professor que se aventura na vida de jagunço por amor. Acredito que Guimarães Rosa traz uma sabedoria nesse livro que é de impressionar. Eu não parei de marcar o livro ao decorrer da leitura dessa primeira parte, meu livro parece que tem mais post it do que páginas. A filosofia do jagunço me pegou de jeito!

"Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa."

Algo que me deixou intrigada também foi o amor por Diadorim, fiquei me perguntando se Riobaldo é homosexual, mas se fosse isso como ele teria namorado tantas mulheres no decorrer da história e como ele falaria desse amor de forma tão aberta com um desconhecido sendo ele um jagunço? Só que não vou mais falar sobre isso, vamos deixar rolar...

Eu não consigo ler nada e não trazer algo para o contexto atual, e esse parágrafo do livro me lembrou muito a situação de polarização política que vivemos, onde o fanatismo toma conta dos pensamentos e o questionamento é deixado de lado:

"Viver é muito perigoso... Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, por principiar. Todos puxavam o mundo para si, para o concertar consertado.Mas cada um só vê e entende as coisas dum seu modo."

Se você ficou meio perdido, como eu, no começo do livro, saiba que quando chega na parte em que Riobaldo começa a contar a história de sua vida e como conheceu Diadorim, tudo fica mais fácil. O que eu achei mais interessante até agora no relacionamento dos dois é que enquanto Riobaldo vive repetindo que "viver é muito perigoso", Diadorim não cansa de falar que "carece de ter muita coragem". Por aí já se vê que teremos alguma lição de vida pela frente, e eu adoro!

"De cada vivimento que eu real tive, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se fosse diferente pessoa."

Uma coisinha muito desagradável

Aconteceu uma coisa muito chata comigo, que me deixou muito brava, revoltada, deprimida, ou seja, tive que passar pelas fases do luto para superar esse acontecido.

Eu li um spoiler do livro enquanto procurava no youtube informações para compreender melhor a história...

"Cada hora, de cada dia, a gente aprende uma qualidade nova de medo!"

Sendo assim, a leitura que comecei a fazer do livro e a que vou fazer de agora em diante serão completamente diferentes, e eu não vou sentir aquele arrebatamento quando chegar ao fim do livro. Só de pensar nisso já sinto meus olhos se encherem de lágrimas.

Mas tudo bem, já superei. De qualquer forma a leitura vai ser agradável, pois já estou apaixonada por essa obra singular.

Acredito que já me acostumei um pouco mais com a linguagem, o que não significa que entendi absolutamente tudo, mas você acaba se acostumando e a leitura flui.

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"Acho que o espírito da gente é cavalo que escolhe estrada: quando ruma para tristeza e morte, vai não vendo o que é bonito e bom."

Semana 2:

Nessa semana Riobaldo entra para o bando de Joca Ramiro e começa a guerrear pelo Sertão, acompanhamos essas aventuras, todo medo e insegurança do personagem, mas ao mesmo tempo a bravura e coragem, pois o que o move é o amor.

Como eu sou uma pessoa ansiosa, me chamou a atenção durante a leitura as partes em que Riobaldo fala se seus sentimentos e de como se sente ansioso. No começo vemos um jagunço bem medroso, que chega a fugir do bando do Zé Bebelo, mas com o tempo ele vai mergulhando na vida de jagunço e passa a se destacar como alguém que atira muito bem, e consegue lidar com suas emoções.

"Em minhas fontes, cocei o aviso de que um suor meu se esfriava. Medo do que pode haver sempre e ainda não há."

O personagem entra em conflito diversas vezes, pois não concorda com as atitudes que são esperadas de quem vive nesse contexto, fica chocado com algumas coisas e não compactua com outras. Eu tenho a impressão que ele não pertence a essa realidade, no entanto é um estilo de vida que o impressiona desde criança. Contudo, aos poucos Riobaldo vai mudando e encontrando seu lugar entre os jagunços.

"Ser ruim, sempre, às vezes é custoso, carece de perversos exercícios de experiência. Mas, com o tempo, todo o mundo envenenava do juízo."

Diadorim é um mistério, apesar de eu já conhecer um de seus segredos, ainda me pergunto como e por que ele foi parar ali, estou muito curiosa para saber porque Diadorim fez as escolhas que fez. Já sabemos que ele é filho de Joca Ramiro, o que explica o fato de escolher ser jagunço, mas gostaria de entender como isso aconteceu, qual é a história dele.

Esse trecho da história me deixou com a pulga atrás da orelha:

"Comigo, as coisas não têm ontem e ant'ôntem amanhã: é sempre. Tormentos. Sei que tenho culpas em aberto. Mas quando foi que minha culpa começou? O senhor por ora mal me entende, se é que no fim me entenderá."

O que será que Riobaldo fez para se sentir tão culpado? Eu percebi que no começo da história ele meio que pede perdão para o "doutor", ele procura redenção. Não vejo a hora de avançar na história e descobrir esses mistérios!

"Porque, quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a ideia e o sentir da gente."


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Semana 3: 

Essa semana foi um pouco arrastada, essa história é tão intensa que parece que você leu muita coisa, já está exausta e quando vai ver só leu duas folhas. É muita história em pouco espaço, não sei bem como definir.

Por outro lado, já estamos praticamente na metade do livro, acho que quando ele terminar vamos nos perguntar como foi que tudo aconteceu tão rápido. Talvez seja o fato do livro não ter capítulos, você fica meio sem noção de tempo e espaço.

Seguimos com o julgamento de Zé Bebelo, uma parte importante da história. Depois, assistindo um vídeo sobre o livro, encontrei um questionamento interessante: onde estava Medeiro Vaz durante o julgamento? Joca Ramiro perguntou a todos os chefes a opinião de cada um, menos de Medeiro Vaz... Fica aqui a dúvida, se alguém souber responder deixe aí nos comentários.

Nesse momento, ao ver a raiva de Hermógenes já comecei a pensar que talvez fosse ele e Ricardão os "Judas", e tudo ficou mais claro na minha cabeça, à partir daí já sabia que um deles mataria Joca Ramiro, só restava descobrir como.

"O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. O que Deus quer é ver a gente ficar alegre a mais, no meio da alegria, e inda mais alegre ainda no meio da tristeza!"

Acaba que nem vimos, ou lemos, essa morte ao vivo, acabamos por saber dela junto com Riobaldo, pela voz de outro jagunço. Só sei que eu senti muito todo o sofrimento de Diadorim, abraçava o livro querendo abraçar o personagem.

Com certeza, Grande Sertão:Veredas é um livro que precisa de releitura, eu mesmo já voltei as páginas algumas vezes para tentar entender algumas coisas. Até agora estou assim:

Riobaldo entra pra vida de jagunço pelo bando de Zé Bebelo, do qual foge e se junta à Joca Ramiro. Depois do grande julgamento ele parte com Titão Passos, e depois da morte do grande líder  ele vai para os Gerais se juntar com o bando de Medeiro Vaz, logo esse morre e se dá a chegada de Zé Bebelo que passa a liderar o bando.

"Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende."

Temos uma bela batalha entre o bando de Zé Bebelo e os Hermógenes, quando Riobaldo chega a duvidar da lealdade de seu velho amigo. Confesso que eu também duvidei, mas voltando algumas páginas percebi com que carinho Tatarana fala desse jagunço, e seria impossível esse amor todo se houvesse alguma traição.

Riobaldo oferece ao Diadorim a jóia que ele não aceita, mas tem intenção de aceitar quando a guerra terminar. Eles continuam a atravessar o sertão e encontram pessoas doentes, pobres, mas Riobaldo tem um olhar para cada uma delas, ele não é um jagunço qualquer.

"E por que era que há de haver no mundo tantas qualidades de pessoas - uns já finos de sentir e proceder, acomodados na vida, tão perto de outros, que nem sabem de seu querer, nem da razão bruta do que por necessidade fazem e desfazem."

Eu nem terminei o livro ainda e já vou ter que começar a ler tudo novamente... Esse não é um livro fácil, mas tenho certeza que será muito gratificante conseguir chegar até o final, pois está sendo uma aventura e tanto!

Sempre lembrando que estou participando do projeto de leitura do canal do Christian Assunção, esse ser iluminado que tem me ajudado a ler os clássicos, se não fosse por ele jamais me arriscaria por esses sertões!

"Só se pode viver perto do outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura."

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"Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas."

Semana 4: 

Eu fico me perguntando se Riobaldo queria mesmo ser jagunço. Acredito que ele seja muito medroso e correto pra esse ofício. Tenho a impressão que ele estava meio em uma crise de identidade, fugido de casa por descobrir sobre o pai, entrou para o bando de Zé Bebelo e também fugiu, foi por amor à Diadorim que virou jagunço, e acho que foi por ele também que fez o pacto com o diabo.

"Aqui digo: que se teme por amor; mas que, por amor, também, é que a coragem se faz."

Apesar, que fica a dúvida também, teve pacto ou não teve? Afinal, o diabo mesmo, o mais interessado no negócio, não apareceu! No entanto, acho que esse "pacto" foi mais um rito de passagem para Riobaldo, quando ele decide de uma vez que para conseguir o amor de Diadorim precisava matar Hermógenes, e para tanto precisava se aliar ao Demo. Assim, com a crença de que algo mais poderoso estava do seu lado, ele se sentiu mais corajoso, a ponto de tomar uma grande decisão.

Riobaldo desbanca seu grande amigo, e se torna chefe de todo bando, dizendo adeus à Zé Bebelo. Agora ele era "bandido destemido e temido" no sertão dos Gerais.

"O maior direito que é meu - o que quero e sobrequero - é que ninguém tem o direito de fazer medo em mim!"

A crise de identidade do personagem era tão grande pois ele vivia vários conflitos internos. Descobriu que não conhecia bem sua história já que seu padrinho era, na verdade seu pai, se viu apaixonado por outro homem mas não se sentia atraído pelo mesmo sexo, era um homem bom que estava fazendo maldades de jagunço, toda essa confusão o levou a fazer o pacto, pois ele queria se sentir, saber quem ele era, se conhecer.

"Ah, acho que eu não queria mesmo nada, de tanto que eu queria só tudo. Uma coisa, a coisa, esta coisa: eu somente queria era - ficar sendo!"

Ele precisava provar pra ele mesmo que era valente, mas tenho a impressão que o que ele queria mesmo era provar isso para Diadorim, pois era ele que dizia que era preciso ter coragem. Só que a coragem a qual ele se referia era outra, era a coragem de amar. Contudo, Riobaldo pensa que precisa ter coragem de guerrear, de ser chefe, de matar Hermógenes, ser um jagunço respeitado e reconhecido.

Consegue atravessar o Liso do Sussuarão, coisa que Medeiro Vaz não conseguiu. Mas ao mesmo tempo fica em dúvida se só conseguiu isso porque teve ajuda do diabo, e continua com seus conflitos internos, a luta do bem e do mal interior. Essa briga é na verdade dentro dele, pois como ele mesmo disse no começo do livro: o diabo está dentro do homem.

O que vemos nessa história é o conflito interior de um homem contra seus próprios demônios. Alguém que não pode se entregar ao amor, já que não se permite amar outro homem, acredita então que deve se entregar ao ódio, assim procura se aliar ao maior representante desse sentimento. Contudo, essa viagem ao auto conhecimento não terá fim, até que ele enfrente o verdadeiro "inimigo", que na verdade é ele mesmo, e encare esse amor de frente.

"O sertão é confusão em grande demasiado sossego."

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Está lida essa obra maravilhosa da literatura brasileira. Não foi fácil, mas nem foi tão difícil assim, só carece de ter coragem!!!

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Pois é, chegamos ao fim. Eu, infelizmente, não pude sentir a emoção que muitos tiveram em descobrir o segredo de Diadorim, e isso me deixou muito triste. De qualquer forma, diário é onde colocamos nossas mágoas e alegrias, e pode ter certeza que esse livro me fez muito feliz.

Nessas páginas acompanhamos a captura da mulher de Hermógenes, e finalmente, a guerra contra esse pactado. O primeiro a morrer é Ricardão, um dos Judas. Depois, temos a cena da morte de Hermógenes e Diadorim. Por fim, a descoberta do segredo de que o grande amigo de Riobaldo, seu maior amor era, na verdade, Maria Deodorina.

Então, Diadorim era uma uma mulher. Toda paixão de Riobaldo não era por um homem, mas sim por uma linda jagunça. Por isso que ela dizia o tempo todo que ele precisava ter coragem, não era para guerrear, mas para assumir o amor que ele sentia.

Apesar de tudo, eu me emocionei sim nessa parte. Fiquei com raiva de Riobaldo por não atirar em Hermógenes. Fiquei pensando "Cabra, frouxo! Vai ter um piti logo nessas horas!" Quando ele subiu para guerrear de cima eu já imaginei que seria dali que ele veria Diadorim morrer. Porque eu já sabia que ela morreria, Guimarães Rosa já tinha nos contado!

Guimarães Rosa nos fez de trouxas.

Eu já tinha percebido durante minha leitura que Guimarães já havia revelado o segredo de Diadorim na parte do livro em que Riobaldo, Otacília e Diadorim conversam. Ele fala do ódio que ele sente e diz se lembrar dela morta.

"Me lembro, lembro dele nessa hora, nesse dia, tão remarcado. Como foi que não tive um pressentimento? O senhor mesmo, o senhor pode imaginar de ver um corpo claro e virgem de moça, morto à mão, esfaqueado, tinto todo de seu sangue, e os lábios da boca descorados no branquiço, os olhos dum terminado estilo, meio abertos meio fechados? E essa moça de quem o senhor gostou, que era um destino e uma surda esperança em sua vida?! Ah, Diadorim... E tantos anos já se passaram."

Esse trecho passa batido para quem não sabe o segredo, e acredito que como não entendemos muitas partes da história no começo, essa também deixamos passar para entender depois. Aliás, todo começo da obra é tão difícil porque só vamos entender tudo com o decorrer da narrativa. O autor vai jogando os fatos nas primeiras páginas do livro, e só mais tarde vai explicar tudo. Por isso, eu li marcando tudo e voltando as páginas várias vezes.

A mulher do Hermógenes

Essa mulher estava sendo um mistério pra mim, não entendi muito bem como ela foi capturada, mas depois compreendi que ela era essencial para a história. Não é a toa que Diadorim vivia indo falar com ela, tenho certeza que foi um alívio ter outra mulher para conversar. Foi pra ela que Diadorim contou seu segredo, e pediu que providenciasse tudo depois de sua morte.

"O senhor escute meu coração, pegue no meu pulso. O senhor avista meus cabelos brancos...Viver - não é - é muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque aprender a viver é que é o viver, mesmo. O Sertão me produz, depois me enguliu, depois me cuspiu do quente da boca..."

Diadorim

Eu fiquei um pouco decepcionada ao saber que Riobaldo não conseguiu descobrir muito sobre Diadorim depois de sua morte, a não ser seu nome. Eu fiquei muito curiosa com a história dela.

Acredito que se esse livro fosse lançado nos dias atuais, com certeza teria uma continuação. Algo como "A história de Maria Deodorina" ou "A versão de Diadorim". Posso estar cometendo um pecado literário aqui, mas gostaria muito de ler esse segundo livro. Acho que Diadorim é a verdadeira heroína da história e eu ficaria muito feliz em saber mais sobre ela. Por exemplo: como foi sua infância, já que Riobaldo já a conheceu como menino? Como entrou para o bando de jagunços? Por que não acompanhava seu pai nas batalhas?

No entanto, talvez Guimarães queira mesmo que nós fiquemos com o mesmo sentimento de Riobaldo, que nunca vai saber mais nada sobre sua amada. Essa história de amor é mais triste que Romeu e Julieta!

Só sei que essa obra é mesmo maravilhosa, ela nos desafia, fala de medo, de coragem, de amor, e com grande sabedoria nos mostra que o Diabo está mesmo dentro de nós, e que precisamos combater nossos medos e nos entregar ao amor.

Eu achava que Riobaldo rezava tanto e era tão religioso porque tinha se arrependido de ter feito pacto com o demônio e queria se salvar, mas no fim eu entendi que ele orava mesmo era para estar em contato com seu amor, que não estava mais na terra mas perto de Deus, e o único jeito dele estar próximo dela era se entregando à religião, amando Deus e amando Maria Deodorina.

"Nonada. O diabo não há! É o que eu digo, se for... Existe é homem humano. Travessia."

10 Comentarios

  1. Que lindo relato de leitura!!!! Vc escreveu de maneira tão simples e apaixonada que fiquei com vontade de ler. E é uma obra que pela dificuldade, eu nunca me animei. Eu sabia já de alguns spoilers, mesmo antes de ler seu texto (onde eu trabalhei tinha vários pesquisadores do Guimarães, pois o arquivo dele estava lá guardado), e eu ouvia eles conversando. É maravilhoso quando a gente lê uma obra transformadora assim.

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  2. Belos livros. Passo a fim de saber notícias suas.
    Passa-se alguma coisa que o/a iniba de escrever?
    Pausa para férias e descansar?
    Está doente? Se for o caso, rápidas melhoras.
    Cansaço do blogue?
    Falta de inspiração para publicar?
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    1. Pois é. Ando um pouco preguiçosa. Mas vou tentar retomar. Obrigada pelo interesse!

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  3. Que máximo o livro, depois de ler aqui já fiquei mega curiosa pelo livro.

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  4. oi!
    Eu adorei o livro é maravilhoso, amo o trabalho do João Guimarães Rosa é excelente

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  5. Parece um livro ótimo, achei interessante, sem falar que é um clássico
    Abraços,
    Alécia, do Blog ArroJada Mix

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  6. Adoro quando a obra é desafiadora assim. Sair da zona de conforto é um belo aprendizado.

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  7. Nossa, uma aventura essa leitura né? Confesso que esse tipo de literatura não me prende muito. Mas gosto de ler a resenha, assim você que conseguiu entender faz sua avaliação e até mesmo incentiva quem está pensando em desistir dele. Desafios são sempre bem vindos e por fim, até gostei da história!

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  8. Olá, tudo bem?

    Foi muito bom poder saber como foi sendo a experiência de leitura a cada semana, foi como se eu sentisse daqui um pouco de tudo que narrou. Ainda não li essa obra, mas como sempre vejo muitos comentários, tenho curiosidade.

    Beijos!

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