O livro é uma combinação de anotações da autora sobre sua maternidade e depressão, intercaladas com elementos de mitologia grega e histórias de grandes escritores mundiais que também enfrentaram essa doença. Vanessa inicia a obra compartilhando suas experiências com o puerpério e as noites em claro desse período. Encontrei uma grande identificação, pois minha experiência foi bastante semelhante à dela.
A obra me trouxe imensa felicidade ao me fazer refletir sobre o fato de ter uma filha de onze anos e não precisar mais passar por essas dificuldades. Embora a infância tenha seu charme e suas dificuldades, lembrar dos perrengues me fez valorizar mais o presente e sentir-me satisfeita por ter superado essa fase.
O foco da autora em discutir os problemas mentais de escritores me lembrou muito de "O Perigo de Estar Lúcida", da Rosa Montero, o que considero positivo, já que amei essa leitura e estou sempre aberta a livros semelhantes, desde que sejam bem escritos.
Minha parte favorita, quando dei boas risadas, foi a página em que a autora relata e critica suas experiências com a terapia. Identifiquei-me profundamente, pois, assim como eu, ela também sentiu que a terapia muitas vezes não funcionava e que a culpa recaía sempre sobre o paciente. Foi um alívio ver que não sou a única a passar por esse processo.
“Fiz uma imersão de oito semanas em meditação mindfulness (sim!), uma sessão despropositada de emdr (Eye Movement Desensitization and Reprocessing) e uma sessão mais despropositada ainda de “processamento de memórias”, na qual passei umas três horas chorando. A terapia com cogumelos só me deu enjoo. Lembro de permanecer mais de meia hora em silêncio com uma determinada analista: nunca mais voltei. Quase no fim da sessão, ela disse que os silêncios podiam ser produtivos, e eu me pergunto para quem.”
Em determinado ponto, comecei a me sentir um pouco cansada dos relatos sobre o filho da autora. Embora esses relatos sejam encantadores e bem estruturados, após um tempo, as histórias sobre a criança parecem ser mais interessantes para os pais do que para os leitores externos.
Achei que o final do livro foi um pouco abrupto, mas isso é compreensível, dado que a obra não segue uma narrativa tradicional, mas sim um relato de experiências entrelaçadas com a biografia de autores que lutam contra a depressão.
"Na ausência de qualquer sinal de autoconfiança, eu agendava sessões de desalento para as segundas, quartas e sextas, com soluços extras nos finais de semana.”
Apesar dessas observações, gostei muito da leitura. Se a autora tivesse abordado mais a própria depressão e menos os aspectos relacionados ao filho, eu teria apreciado ainda mais. Acredito que ela quis enfatizar a parte positiva da história, que é o desenvolvimento da criança, que é, sem dúvida, esperto e adorável.
Estou ansiosa para ler mais livros de Vanessa Barbara. Já acompanho a newsletter "A Hortaliça" e adoro sua escrita. Recomendo muito a leitura dessa obra!